Para Milton Santos, no mundo globalizado, dois vetores contraditórios organizam o espaço de nossas cidades. O primeiro, chamado por ele de vertical, está relacionado com as forças hegemônicas do capital. Servindo-se de modernos meios de comunicação e ferramentas técnicas sofisticadas de informação, negligencia a dinâmica dos fluxos materiais, conecta pontos distantes do território, racionaliza o espaço, padroniza o comportamento e os desejos dos indivíduos, para melhor assegurar o controle social, estabelecer as hierarquias, garantir a circulação de mercadorias e o bom funcionamento da economia global. O segundo, chamado de horizontal, é físico e trabalha em nível do solo a partir das edificações e do cenário urbano. Escapando do controle das forças hegemônicas do poder e de sua lógica disciplinar, esse segundo vetor é capaz de fazer eclodir na cidade oficial outras cidades móveis, oficiosas, que se investem dos fluxos das ações sociais, favorecidas pelo contato direto entre os indivíduos em seus momentos de afirmação e posicionamento, pessoal ou coletivo, quando reagem aos padrões de homogeneização impostos pela ordem global, produzindo seus campos próprios de subjetividades. Por outro lado, não se pode esquecer da lição que Benjamin nos legou: apropriando-se dos meios de produção que pretendem controlar suas energias vitais, assumindo as suas formas dialéticas, os oprimidos podem, quando bem organizados, infiltrar-se nas redes de poder para subvertê-las. A exemplo, podemos citar a Primavera Árabe, uma onda de revoluções encadeadas no oriente próximo, cuja ação foi primeiramente organizada nas redes sociais antes de se efetivar nos espaços reais das cidades. Occupy All Street, série de manifestações contra a desigualdade social e econômica que teve início nos Estados Unidos, no distrito de Manhattan em setembro de 2011, se espalhou rapidamente pela web, contaminando, de modo descontínuo, outros locais do globo. As manifestações de julho de 2013 que ocorreram no Brasil, inicialmente motivadas pelo aumento abusivo dos preços do transporte público em São Paulo, foi disto uma consequência. Rapidamente se propagou por outras urbes e logo se tornou um movimento social amplo no país, visando à moralização geral da política, exigindo o fim da corrupção. Diante das forças contraditórias e dialéticas – local/ global; real/ virtual; indivíduo/ coletividade – que organizam a realidade e os espaços de nossas metrópoles, o que podem a arte e o artista em nossos dias?
Palavras-chave: cidade; produção de subjetividades; práticas artísticas contemporâneas