O modo de perceber e compreender as coleções dedicadas às artes visuais mostra-nos uma intrincada relação com a constituição e a prática da História da Arte, em toda sua abrangente pluralidade e seus arbítrios excludentes. Nas duas últimas décadas, um número expressivo de pesquisadores voltou-se para a compreensão formativa e discursiva das coleções artísticas, especialmente percebendo-as como espaços de pesquisa pluridimensionais. As coleções possibilitam apreender o fenômeno artístico pela compreensão dos gostos de seus proprietários, inseridos numa cultura e tempo particulares, estabelecer relações entre diferentes contextos históricos e nexos entre materialidades distintas, especular sobre as formas de circulação, de visibilidade e de exposição das obras, numa extensão que opera das características estéticas aos modelos mercadológicos de interação. Por meio das coleções, ainda é possível alcançar modelos de formalização que transformaram conjuntos de obras em acervos: sistemas institucionais controlados e pretensamente hierarquizados. Os acervos são capazes de nos apresentar não apenas os coletores, os selecionadores e os mantenedores de tais conjuntos, mas, também, muito nos esclarecem sobre a apreciação, a recepção crítica e a compreensão das intenções autorais. A própria história da história da arte alinha-se a diferentes modelos de colecionismo: devotados à celebração de um passado autorizado, delineados pela necessidade pedagógica, como modo de bem transmitir o gosto, a excelência e a tradição dos mestres e suas instituições. Evidentemente, a história das coleções extrapola os limites das narrativas da história da arte exemplar, praticada até recentemente. Muitas coleções desafiam, pelo olhar coletor dos colecionadores ou pelas frestas das reservas técnicas dos museus, a ordem classificatória vigente em tempos distintos. Proposto pelos pesquisadores do Grupo de Pesquisa “História da Arte: modos de ver, exibir e compreender”, este simpósio visa acolher trabalhos que buscam pensar o artístico, seu juízo de valor e histórias em suas conexões e interações por meio de coleções e acervos. Os questionamentos que marcam os atuais debates sobre as interações entre a produção e a circulação cultural contemporâneas operam como marcos referenciais para discutir os processos relativos ao colecionamento da arte nos últimos dois séculos: coleções desfeitas, refeitas, constituídas, coleções que ainda estão por vir.
Palavras-chave: acervos; coleções; história da arte