As práticas colaborativas na arte são um fenômeno contemporâneo de tamanha magnitude cuja presença não é possível desconhecer. A proliferação dos coletivos de artistas, o desencanto com a produção de objetos artísticos orientados para o mercado em projetos de arte que, ao contrário, visam dificultar sua própria inserção no sistema institucional, além da articulação entre arte e ativismo em ações de inequívoco teor político são características que situam essas práticas artísticas, de caráter colaborativo e político, vigorosamente distantes da produção de arte alicerçada no tripé artista – objeto artístico – mercado, ou se preferirmos um viés mais astucioso, artista – objeto artístico – instituições. Com as práticas colaborativas cai por terra o modelo de criação e de produção de arte centralizado no artista, modelo que entra em colapso em favor de outro que se assenta sobre novos elementos e parâmetros, a saber: diálogo e negociação. A noção de obra de arte é tensionada por práticas que preconizam a ênfase no processo e na fluidez dos encontros e que relegam o objeto / produto do gesto ou da ação artística a uma condição secundária. Mesmo o artista parece experimentar certa perplexidade diante do que vê de si mesmo, ao perceber-se sobrecarregado com novas funções que se sobrepõem àquela de criador. Neste cenário, o artista também é propositor, articulador e mediador, para citar apenas algumas das novas atribuições. Nessa representação de si mesmo, o artista parece relutar diante de situações que desafiam sua identidade e sua percepção social. O fenômeno das práticas colaborativas, ramificado em eixos que englobam as práticas dos coletivos de arte, da arte ativista, da arte política etc., oferece-se como campo fértil para reflexões e debates acerca do escopo e dos compromissos que envolvem o cotidiano do artista em seu processo criativo. Neste sentido, o fenômeno gera incertezas e interrogações sobre as instituições de arte, desafiadas a alargar sua capacidade para o acolhimento dessas proposições artísticas; sobre a crítica de arte, não aparelhada para um debate franco e propositivo acerca dessas práticas; sobre as instituições de ensino e de formação, instadas a buscar meios para a instrumentalização desse novo artista; sobre o próprio artista, paralisado diante de um espelho que reflete uma imagem que não reconhece de si mesmo, entre outras questões a desafiar nossa compreensão supostamente consolidada da natureza da arte.
Palavras-chave práticas colaborativas; processos criativos críticos; tensionamentos políticos